quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Boca seca, reza triste


Não leva ele não. Me perdoa, mãezinha, mesmo sem eu saber o que fiz. Não chama ele. Não tira ele dos meus braços. Sei que eu devo ter feito muita coisa ruim nessa vida, mas não me castiga dessa forma.
A senhora é mãe também. A senhora sofreu, também, então deve me entender, mãezinha.
Eu o seguro nos braços, como se fosse feito de gravetos. Seus braços parecem mesmo, de tão magrelos. Ele esfrega a cabeça em meu ombro, os cabelos muito curtos coçando a minha pele.
Ponho a mão em sua cabeça, mas não faço nada. Queria saber falar bonito que nem o seu Moreira e o seu Raimundo, os candidatos desse ano pra prefeito. Se bem que aqueles dois não devem se importar nada, nada, com meu filho.
Eu queria cortar esse silêncio. Queria pensar em algo. Queria saber te mostrar o quanto eu preciso do meu filho, mãezinha. Queria saber rezar que nem o Padre Roberto da rádio.
Não sei. Não sei falar bonito. Só sei cozinhar, lavar, passar. Só sei viver, respirar.
Aperto os ossos do meu filho só mais um pouquinho. Não quero deixar ele ir, mesmo que seja para os seus braços — a senhora que é mãe dele também.
Nenhuma palavra vem. Meus lábios estão tão secos que acho que nem conseguiria abrir...
Estendo meu filho para frente, para ver se me sai alguma coisa da boca.
Seus olhos estão entreabertos. Ele não vê nada. Seus braços de gravetos estão mais moles que antes.
Mãe Maria, o que a senhora fez?
Meus olhos derramam nele gotas de lágrimas bem grandes. Meu filho não sente.
Ah, ele parece dormir tão bem... É assim que é um anjo, mãe do céu?



Cuide bem dele, viu?








(Imagem: Retirantes, Cândido Portinari  - via Google Imagens)

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